Lectio divina: 28º Domingo Comum (ano C)

Domingo, dia do Senhor, dia da gratuidade de Deus.

A primeira leitura e o Evangelho convidam-nos a iniciar um caminho. Também nós como Naamã e os leprosos precisamos de ser curados. “A Bíblia é um livro cheio de caminhos e de viagens; a história entre Deus e a humanidade é um entrelaçado dinâmico entre sair e chegar, ir e vir, partir e voltar, entre êxodo e advento” (Maria Ko). A nossa história está aberta ao mistério transcendente de Deus que se faz conhecer em Jesus Cristo. Enquanto buscamos a Deus pelo desejo que levamos em nós, Ele vem ao nosso encontro para também Ele nos buscar.  A segunda leitura apresenta-nos Paulo, na prisão, e pouco antes de ser condenado à morte. Deixa-nos, porém, o seu “testamento espiritual”. Quem acolhe Cristo identifica-se com Ele, vive no Seu amor e tudo Lhe entrega antes de chegar à vida definitiva da ressurreição. Bom Domingo.
1. Introdução
A primeira e a terceira leitura deste domingo falam-nos de dois estrangeiros que se abriram à Palavra de Deus e se aproximaram da fé. «Ter fé, uma fé viva, não é fácil (…) porque a fé, que é um dom de Deus, também requer que nós a cultivemos. Não é uma força mágica que cai do céu, não é um dote que se recebe de uma vez para sempre, nem sequer um superpoder que serve para resolver os problemas da vida» (Papa Francisco em Baku, no Azerbaijão).
2. 2 Reis 5, 14-17
2.1 Texto
Naqueles dias, o general sírio Naamã desceu ao Jordão e aí mergulhou sete vezes, como lhe mandara Eliseu, o homem de Deus. A sua carne tornou-se tenra como a de uma criança e ficou purificado da lepra. Naamã foi ter novamente com o homem de Deus, acompanhado de toda a sua comitiva. Ao chegar diante dele, exclamou: «Agora reconheço que em toda a terra não há outro Deus senão o de Israel. Peço-te que aceites um presente deste teu servo». Eliseu respondeu-lhe: «Pela vida do Senhor que eu sirvo, nada aceitarei». (…) Disse então Naamã: «Se não aceitas, permite ao menos que se dê a este teu servo uma porção de terra para um altar, (…) porque o teu servo nunca mais há de oferecer holocausto ou sacrifício a quaisquer outros deuses, mas apenas ao Senhor, Deus de Israel».
2.2 Caminho para a fé
O profeta Eliseu é o instrumento usado por Deus para ultrapassar as honras e lógicas do general sírio Naamã e levá-lo a lavar-se nas águas milagrosas do Jordão. Ao ver-se curado, revestido de pele branca de criança, fez o seu ato de fé no Deus que lhe deu a salvação. O seu último gesto de gratidão foi trocar os presentes que queria oferecer ao profeta por uma “porção de terra” em cima da qual passaria a oferecer sacrifícios ao Deus de Israel, na sua pátria.
3. Salmo 97 (98), 1-4 (R. cf. 2b)
O Salmo 98 é uma manifestação de Deus a todos os povos e a todos os seres criados por Ele. N’Ele se compõe um grande poema musical onde as obras do Senhor são enumeradas, cada uma na sua originalidade. Num contexto de estrangeiros, quer na primeira leitura (Naamã), quer no evangelho (10 leprosos), o Salmo apresenta a universalidade com que Deus quer chegar a todos os povos com a salvação.
4. 2 Timóteo 2, 8-13 4.1
4.1 Texto
Caríssimo: Lembra-te de que Jesus Cristo, descendente de David, ressuscitou dos mortos, segundo o meu Evangelho, pelo qual eu sofro, até ao ponto de estar preso a estas cadeias como um malfeitor. Mas a palavra de Deus não está encadeada. Por isso, tudo suporto por causa dos eleitos, para que obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com a glória eterna. É digna de fé esta palavra: Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos; se sofremos com Cristo, também com Ele reinaremos; se O negarmos, também Ele nos negará; se Lhe formos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a Si mesmo.
4.2 “Testamento Espiritual”
Numa altura de crise, em que as comunidades parecem ter perdido o entusiasmo e que enfrentam heresias, Paulo, na prisão, e pouco antes de ser condenado à morte, escreve, firmemente, aquilo a que poderíamos chamar “testamento espiritual”. Quem acolhe Cristo identifica-se com Ele, vive no Seu amor e tudo Lhe entrega antes de chegar à vida definitiva da ressurreição. Eis a bela síntese dum maravilhoso hino que nos revela o sentido cristão da vida no mistério pascal.
5. Lucas 17, 11-19 5.1
5.1 Texto
Naquele tempo, indo Jesus a caminho de Jerusalém, passava entre a Samaria e a Galileia. Ao entrar numa povoação, vieram ao seu encontro dez leprosos. Conservando-se a distância, disseram em alta voz: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E sucedeu que no caminho ficaram limpos da lepra. Um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto em terra aos pés de Jesus, para Lhe agradecer. Era um samaritano. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?». E disse ao homem: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tuafé te salvou».
5.2 “Itinerário catequético de fé”
Jesus vai desfolhando o manual de instruções, sempre baseado em seus encontros. Desta vez são dez leprosos, perdidos no monte, afastados da sociedade, acusados de castigo divino. Gritam forte: “Tem compaixão de nós”, isto é, repara em nós, toca-nos, somos impuros, somos excomungados, restitui-nos a dignidade de sermos seres humanos”. Jesus fez como Eliseu. Mandou-os apresentar-se aos sacerdotes para confirmar a sua cura e poderem viver livres. Somente que aconteceu algo estranho: apenas um deles, samaritano, veio agradecer prostrando-se por terra. Este episódio apresenta-nos um itinerário catequético de fé.

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