Lectio divina: 20º Domingo Comum (ano C)

A Palavra de Deus deste XX DTC é de grande exigência. Devemos entendê-la bem,

lê-la com muita simplicidade. Estas duas afirmações de Jesus, “vim trazer o fogo à terra” e “não vim trazer a paz, mas a desunião” significam a radicalidade de vida no seguimento de Jesus. Temos que ser fiéis ao Senhor, mesmo contra a atitude de quem muito querido pretenda desviar-nos da nossa fidelidade aos caminhos de Deus que não tem limites. É então, que Jesus acaba por Se tornar ocasião de divisão.
O “fogo” possui um significado simbólico complexo. Vem de Deus. Mas arde e queima e opera dentro de nós. Purifica, ilumina e aquece. O tempo de provas, de crises, é doloroso mas é também tempo de crescimento.
Na primeira leitura a figura de Jeremias vem a ser a figura de Jesus. A carta aos Hebreus (12,1-4) depois de enumerar as testemunhas que afirmam “as grandezas da fé», convida-nos a “correr com perseverança para o combate”. O seguimento de Jesus é o caminho da cruz. Um santo Domingo.

1. Introdução
A palavra de Deus deste domingo apresenta-se como luta, como combate (2ª Leit.). Jeremias, por ser fiel, sofre o martírio (1ª Leit.). As imagens “vim trazer o fogo à terra” e “não vim trazer a paz, mas a desunião” devem ser entendidas com simplicidade. Deus quer tudo de nós. Acima de todos os amigos, família e todas as nossas ambições está o seguimento da vontade de Deus.
2. Jeremias 38, 4-6.8-10
2.1 Texto
Naqueles dias, os ministros disseram ao rei de Judá: «Esse Jeremias deve morrer, porque semeia o desânimo entre os combatentes que ficaram na cidade e também todo o povo com as palavras que diz. Este homem não procura o bem do povo, mas a sua perdição». O rei Sedecias respondeu: «Ele está nas vossas mãos; o rei não tem poder para vos contrariar». Apoderaram-se então de Jeremias e, por meio de cordas, fizeram-no descer à cisterna. (…) Na cisterna não havia água, mas apenas lodo, e Jeremias atolou-se no lodo. Entretanto, Ebed-Melec falou ao rei: «Ó rei, meu senhor, esses homens procederam muito mal tratando assim o profeta Jeremias: meteram-no na cisterna, onde vai morrer de fome». Então o rei ordenou: «Leva daqui contigo três homens e retira da cisterna o profeta Jeremias, antes que ele morra».
2.2 Ser profeta
Tudo o que aconteceu a Jesus aconteceu aos profetas. Diz Jeremias: “Geraste-me como homem de discórdia para toda a terra” (Jer 15, 10). Jeremias é mártir da Palavra que tem de anunciar. Tenta convencer as autoridades para dialogar com Nabucodonosor que irá invadir o reino de Judá mas não o escutam. No final, Deus coloca-se a seu lado: “não tenhas medo, Eu estarei contigo para te libertar” (Jer 1,8).
3. Salmo 39 (40), 2.3.4.18 (R. 14b)
3.1. Jeremias
Este salmo 40 ilumina a figura de Jeremias, a carta aos Hebreus e o Evangelho. O salmista transforma o louvor em profissão de fé em Deus, protetor e libertador. “Retirou-me do abismo e do lamaçal”. “Eu sou pobre e infeliz: Senhor, cuidai de mim. Ó meu Deus, não tardeis”.
4. Hebreus 12, 1-4
4.1 Texto
Irmãos: Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas, ponhamos de parte todo o fardo e pecado que nos cerca e corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição. Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus. Pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado.
4.2 Cristo como modelo supremo
Depois de enumerar as testemunhas que afirmam “as grandezas da fé», a Carta aos Hebreus apresenta-nos Cristo como modelo supremo da nossa «corrida» para a perfeição até chegar à meta final. “Corramos com perseverança para o combate” da fé que se apresenta diante de nós. Jesus convida-nos a segui-Lo pelo caminho da cruz.
5. Lucas 12, 49-53
5.1 Texto
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber um batismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra».
5.2 “Ditos” do Evangelho
Temos, hoje, um dos textos dos mais difíceis de interpretar de todo o Novo Testamento: “vim trazer o fogo à terra” e «não vim trazer a paz, mas a desunião». Jesus pretende mostrar a opção radical no seu seguimento com olhar límpido e coração reto, mesmo contra pessoas queridas como o nosso pai ou o nosso irmão, onde posso provocar “desunião” para ser fiel. É, então, que Jesus acaba por Se tornar “ocasião de divisão”. Ainda hoje acontece na sua Igreja. A fidelidade a Jesus não tem limites. O “fogo” possui um significado simbólico complexo. Este fogo é novo! Não é nosso. É de Deus. Vem de Deus. Mas arde e queima e opera dentro de nós. Purifica, ilumina e aquece. O tempo de provas, de crises, são também tempos de crescimento.
6. Meditação
“Pensais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Pois Eu digo-vos que não: o que vim estabelecer foi a desavença”. E no entanto, Cristo é o “Príncipe da Paz”. Mas foi pela Sua Paixão e Morte que Ele realizou a reconciliação. E só entrando no mesmo banho de sangue com Cristo, deixando-nos queimar por este Seu fogo de amor em vez do fogo da vingança ou do ódio que nos domina, é que nós seremos construtores de paz embora no meio das desavenças que involuntariamente possamos causar. Fomos batizados com Cristo na morte, diz S. Paulo e repete-o a liturgia do Batismo. Ser cristão é aceitar ser, como Cristo, condenado à morte — como caminho único de passagem para a vida e a paz”. (Adolfo Perez Eaquível, Nobel da Paz 1980).
7. Oração
Senhor, o fogo do Evangelho de hoje é gérmen de vida nova. Da vida verdadeira que Jesus traz. Não pensemos que a expressão de Jesus “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10) entra em litígio com esta de hoje. Muito pelo contrário. São frases sinónimas. Jesus não se contradiz. Ele tem a memória de Deus: é fiel a Si mesmo. Agora, a vida nova de Jesus implica que arda em nós o fogo do amor de Deus, o Espírito Santo. É Ele que nos purifica do que impede a vida em nós. É Ele que fecunda a vida pela santidade (Sementes do Evangelho).
8.1 Contemplação
O esplendor na história humana
O homem, separado de Deus,
torna-se desumano consigo mesmo e com os seus semelhantes.
Paulo de Tarso, Agostinho de Hipona, Francisco de Assis, Inácio de Loyola,
Teresa de Jesus, João Bosco, Maria Mazzarello, Teresa de Calcutá, Padre Pio…,
foram estrelas a desenhar na terra as cores do céu.
A radicalidade com que viveram as suas vidas tornou-os imortais.
Mártires dos seus credos, Gandhi, Martin Luther King, D. Oscar Romero…,
Tantos profetas cujos nomes se perderam no tempo,
Gritaram mais alto do que os seus contemporâneos
os valores que pautaram suas vidas.
8.2 Poema
Mística da corrida: Corramos com perseverança para o combate Hebr 12, 1
Qual o preço da vida com tantos à deriva?
Qual o preço do ouro em enormes tesouros?
Qual o preço de nós que vamos já sem voz?
Qual o preço de mim? Alto a não ter fim?

Vagueio por becos no tempo sem senso.
Quem quer comprar pacotes de nada?
Vazio está o saco. É madrugada,
Ainda há mares para navegar imensos.

Afinal, que mais posso eu querer?
Quem vem comigo, posso eu saber?
Poderei descobrir o que me espera?
Saberei semear nova primavera?

Junto ao poço fundo de Jacob
De cântaro na mão eu irei;
De viola a tiracolo viajarei,
Darei água a quem de mim tiver dó.

O amor místico do canto da alma
Irá no meu alforge de pregador;
Meditações lhe farão companhia,
Juntos formarão um bouquet de flores.

Esperarei tua mesa de vinho e pão
Como servo que espera o amanhã.
Dormirei em tolha branca de linho,
Acordarei como acorda o menino.
Acolhamos a luz para podermos acolher Deus.

Acolhamos a luz e tornemo-nos discípulos do Senhor.
Clemente de Alexandria.

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